deslocamentos: olhares contemporâneos
nosso tema de 2024
deslocamentos: olhares contemporâneos
nosso tema de 2024
Para a primeira edição, propusemos um tema intrinsecamente ligado à concepção do projeto: o deslocamento no espaço e no tempo. Nossa ‘bagagem’ especial de livros teve como “motus” inspirador o rico território de associações, alusões e ressignificações proporcionadas pela vasta obra de Guimarães Rosa.
Citando um trecho de Grande Sertão: Veredas: “Eu não gostava muito de cintilâncias, o que via, via no mundo eu mesmo. Eu tinha uma bolsa, que não era bem de viagem, nem de pastas, e sim uma bolsa de garupa, minha mala de jeito vadio.” Nesta passagem, Riobaldo habilmente descreve sua mala como algo flexível, transitório, um artefato de sua garupa, simultaneamente meio cheia e meio vazia. Com essa ambiguidade, ao longo da narrativa, ele nos conduz por territórios que não se limitam a meros movimentos geográficos físicos através do sertão, mas exploram também espaços repletos de incertezas e estranhamentos, representando uma exploração dos limites e contradições internas de sua personalidade.
Esse breve trecho, que nos trouxe a “mala de jeito vadio”, inspirou-nos e suscitou diversas perguntas, tais como: o que desejávamos genuinamente levar e compartilhar com os outros? Quais reflexões pretendíamos instigar para promover um olhar mais crítico sobre a sociedade com os nossos trabalhos?
Com o objetivo de estimular novos olhares e diálogos, esperávamos que o tema funcionasse como um gatilho narrativo, permitindo a cada um de nós criar histórias e possibilidades estéticas únicas, conferindo expressividade poética singular a elas.
Hoje, ao olharmos para trás, vemos como esse convite para explorar novos territórios — geográficos ou simbólicos — reverberou nos trabalhos criados. A M.A.L.A., acompanhada dos livros, transformou estranhamentos em diálogo e incertezas em descoberta, abrindo caminho para novas perspectivas e narrativas em nosso percurso artístico de 2024.
Professora convidada na edição 2024

Luciane Kunde é artista, pesquisadora e educadora. Participou em diversas exposições, incluindo ‘Efêmeras’ (PROAC, Campinas, 2021), ‘Habitar o Ar’ (Campinas, 2021), ‘Água, polpa e matéria’ (exposição individual online, Galeria do Instituto de Artes Unicamp, 2021), ‘Memória, lugar y paisaje. Una lectura gráfica’ (Colômbia, 2019) e ‘Página Viva!’ (Casa das Rosas, São Paulo, SP, 2016).
Com título de mestre em Artes Visuais pela Unicamp (concluído em 2023), Luciane concentra sua pesquisa no papel artesanal como recurso expressivo na construção da linguagem artística. Sua visão artística destaca o processo criativo e a matéria como elementos intrínsecos à sua prática.
Além de desenvolver projetos autorais inovadores, Luciane compartilha seu conhecimento através de oficinas de papel artesanal, promovendo a apreciação e a prática dessa forma de expressão. Ela desempenha um papel ativo como professora na OPA (Oficina de Papel Artesanal) sediada no Instituto de Artes da Unicamp. Luciane também é membro da IAPMA, uma prestigiada associação mundial de artistas e pesquisadores em papel, solidificando seu compromisso com a comunidade artística global.