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MALA 2026
tema edição 2026: vagar mundo
sugestão de aprofundamento de pesquisa: escrita assêmica
Em diálogo com a nossa ida à Argentina em 2026, consideramos fundamental reconhecer a potência do trabalho de Mirtha Dermisache, artista argentina cuja obra expandiu radicalmente as noções de linguagem e escrita. Suas “caligrafias ilegíveis”, como definiu Roland Barthes, rompem com os códigos tradicionais da comunicação verbal, abrindo espaço para uma experiência visual, poética e sensível do texto. A pertinência de estudá-la hoje, especialmente no campo do livro de artista, está na forma como ela tensiona os limites entre palavra, imagem e forma editorial, seus cadernos, publicações e grafismos são verdadeiros livros de artista que não se preocupam em dizer, mas em fazer sentir, traçando percursos subjetivos que nos convidam a ler com o corpo. Revisitar Mirtha é também refletir sobre os gestos da escrita como expressão artística em si, e reconhecer na tradição latino-americana um legado experimental e profundamente contemporâneo.
cronograma de atividades
leitura recomendada
• livro de Tania Rivera => RIVERA, Tania.Lugares do delírio.São Paulo: n-1 edições, 2017.
leitura recomendada
• Dois livros indicados pelo Cláudio Rocha como leitura preliminar. Os títulos são:Projeto TipográficoA Letra como Expressão Artística
reflexões preliminares
As inquietações em torno da escrita assêmica e da obra de Mirtha Dermisache nos aproximam das reflexões propostas por Tania Rivera em Lugares do delírio, onde a escrita e o processo artístico são compreendidos como espaços de atravessamento entre sentido e não-sentido, entre o dizer e o delirar. A escritura assêmica, tal como Mirtha a concebe, ao suspender a legibilidade e liberar a linguagem de sua função utilitária, faz eco ao que Tania chama de lugares de deslocamento e de excesso — zonas em que a criação artística se enraíza justamente na impossibilidade de se reduzir ao discurso racional.
Revisitar Mirtha, nesse contexto, é também reconhecer na escrita um gesto “delirante”, um traço que escapa às normas e que abre a possibilidade de pensar o delírio não como patologia, mas como experiência estética e conceitual. É nesse ponto de encontro que arte e transgressão se entrelaçam, inventando outras formas de realidade: singulares, subjetivas, às vezes transgressoras, mas também compartilháveis no campo cultural. Assim, o livro de artista emerge como lugar paradoxal, simultaneamente como um objeto material e como espaço de experiência sensível, onde texto e imagem se confundem e onde a leitura se transforma em prática de desvio da linguagem.
